"Acompanhei o projeto “Piratas de Galochas na
Luz”. Cujo grupo apresentou um espetáculo de mesmo nome nas ruas da
região da Luz. Posicionados defronte à Sala São Paulo, - onde a aristocracia
paulistana se encontra para apreciar música clássica - os atores contornavam a
Praça Júlio Prestes e a Rua Helvética seguindo um roteiro em que o público, com
forte presença de crianças que sabiam todas as falas e se divertiam pra valer,
pode conhecer as peripécias de uma trupe barulhenta de piratas sujos e
maltrapilhos que vagueiavam por uma cidade em ruínas, com políticas que transpiram
segregação em honra às exigências do mercado imobiliário.
Como uns poucos
piratas imundos e pervertidos, e que se opõem a qualquer tipo de cooptação,
podem opor-se ao mercado e ao estado? Loucura! Esse era o fio condutor da peça.
Sobra para todo mundo: assistentes sociais, doutos sociólogos, planejadores
urbanos, empresários, o aparato repressivo do governo, os bem-intencionados de
esquerda... Nada sobrevive à verve anarquista que remete às discussão sobre as
Zonas Temporárias Autônomas e faz lembrar os Piratas do Tietê, de Laerte nos
anos 80, ou o incrível exército de Brancaleone. O espetáculo enfim emociona e
faz pensar sobre a pasmaceira em que se tornou a política institucionalizada
diante de uma realidade social cada vez mais perversa."
James Abreu - Técnico do VAI